Etimologia: Em grego
Χάριτες (Khárites), cujo singular é kháris.
Funções: Cárites são
divindades da beleza, da alegria de viver e é bem possível que,
originariamente, tenham sido Deusas da vegetação. Responsabilidade: Vegetação
Pais: Zeus e Eurínome (em algumas versões)
Conjuges: Anquises (em
algumas versões)
Filhos: Eneias
(Anquises) (em algumas versões)
Em princípio, as Cárites são divindades da beleza,
da alegria de viver e é bem possível que, originariamente, tenha sido deusas da
vegetação. São representadas quase sempre nuas ou cobertas apenas com leves
tecidos ou véus flutuantes.
São jovens, lindas, esbeltas e seguram-se
normalmente pelos ombros: duas olham numa direção, mas a do meio olha na
direção oposta. Sua função principal é alegrar a vida, os homens e os deuses.
Habitam o Olimpo, em companhia das Musas e com estas formam, freqüentemente,
coros. Fazem parte do cortejo de Afrodite, Eros e Dionisio. Exercem influência
benéfica sobre os trabalhos intelectuais e as obras de arte e, por isso mesmo, acompanham
a deusa Atena, protetora inconteste dos trabalhos femininos e da atividade
intelectual. Os latinos chamam-nas Gratiae, as Cárites.
Tipo e atributos - Nos monumentos da arte
primitiva, as Cárites estavam sempre vestidas, e nós as vemos sob tal aspecto
num dos baixos-relevos do altar dos doze deuses no Louvre. O grupo apresenta um
caráter que não foi adotado pela arte dos tempos posteriores. Estão todas de
frente e tocam as mãos sem enlaçar os braços. Vemos também as Cárites vestidas,
numa medalha da época romana.
"Apesar de todas as minhas buscas, diz
Pausânias, não pude descobrir quem foi o primeiro escultor ou o primeiro pintor
que teve a idéia de representar as Cárites inteiramente nuas. Em todos os
monumentos da antiguidade as Cárites estão vestidas. Não sei por que os
pintores e escultores que vieram posteriormente mudaram esse modo, pois hoje, e
há muito, tanto uns como outros representam as Cárites inteiramente nuas."
(Pausânias).
Sabemos que as Cárites esculpidas por Sócrates
estavam vestidas, assim como as que Apeles pintara. É provável, portanto, que
foi somente depois, em seguida ao domínio macedônio, que se introduziu o uso de
as despojar de vestes.
O famoso grupo antigo das três Cárites, que se
encontrava na catedral de Siena, foi transportado para o museu desta cidade.
Foi nesse grupo que se inspirou Rafael, no primeiro quadro pagão que pintou. De
resto existem diversas variantes de tal grupo, e o museu do Louvre possui uma
belíssima cópia. Tornamos a ver ainda as três Cárites em Pompéia. Rubens e
muitos pintores dos últimos séculos houveram por bem reproduzir as Cárites na
sua postura tradicional. Canova, Thorwaldsen e Pradier também as esculpiram,
sendo o grupo de Thorwaldsen o mais famoso.
Entre as obras dos últimos séculos, a obra-prima de
Germain Pilou, no Louvre, é a única em que as Cárites estão vestidas. e é por
isso que elas foram confundidas com as três virtudes teologais, mas no
pensamento do artista exprimiam realmente as Cárites. O agrupamento costas com
costas não se vê na antiguidade.
Embora as Cárites sejam interpretadas geralmente no
sentido de benefícios, personificam tudo quanto constitui o encanto da vida; o
seu domínio é tudo quanto é belo e atraente. É por esse título que estão
incumbidas do atavio de Afrodite. Vemo-las freqüentemente ligadas a essa deusa,
ou colocadas ao lado de Eros. A própria filosofia julgava precisar das Cárites
para não ser árida e repulsiva. Platão aconselhava a Xenócrates sacrificar às
Cárites. Essas divindades desempenham, assim, múltiplas funções. Tomadas num
sentido puramente físico, o século dezoito desnaturou a concepção primitiva dos
gregos.
Com efeito, o nome de Cárite significa ao mesmo
tempo beneficio e elegância, e os antigos sempre o compreenderam nos dois
sentidos. Os artistas dos últimos séculos negligenciaram o primeiro para
ater-se exclusivamente ao segundo, ao qual convém regressemos, se quisermos
compreender o sentido de certos monumentos antigos. Assim, num baixo-relevo
antigo do Vaticano, vemos um enfermo agradecer a Esculápio graça que por este
lhe foi concedida. As Cárites estão na postura habitual ao lado do deus da
medicina.
Por análogo motivo, as Cárites se prendem. As
vezes, a Apolo, que, antes de seu filho Esculápio, presidia as curas. Uma pedra
gravada nos mostra as três irmãs, postas na mão direita de uma personagem de
estilo arcaico, que julgamos imitação de uma velha estátua de Apolo em Delos.
Tendo os atenienses socorridos os habitantes do Quersoneso, estes, para
eternizarem a recordação de tal benefício, elevaram um altar com a seguinte
inscrição: Altar consagrado às Cárites, por serem elas que presidiam ao
reconhecimento. Os espartanos, antes do combate, costumavam oferecer
sacrifícios às Cárites, e se o culto delas era tão difundido na Grécia é porque
era tomado no sentido de graça concedida.
Tinham as Cárites freqüentemente templos em comum
com outras divindades. Eram invocadas no começo do repasto para presidirem à
doce alegria e à harmonia das festas. Segundo Píndaro, nunca faltavam nos coros
e nos festins dos imortais, donde a presença delas expulsa os cuidados e os
pesares. Finalmente, têm por missão proporcionar aos deuses e aos homens tudo
quanto torna a vida feliz.
Num vidro antigo, pintado, vemos as três Cárites
nuas, de braços entrelaçados. Usam braceletes, e há flores no chão que elas
pisam. São evidentemente as Cárites, mas a inscrição lhes dá nomes especiais e
significativos: Gelasia (doce sorriso), Lecori (beleza brilhante) e Comasia
(alegre conviva). É claro que houve a intenção de representar o que constitui o
encanto de um banquete, a alegria, a beleza, a amabilidade.
O número das Cárites varia na mitologia. Certas
regiões admitiam apenas duas, mas os monumentos da arte apresentam quase sempre
três. Segundo a tradição mais difundida, são filhas de Zeus e Eurinoma, e os
seus nomes variam; mas geralmente se chamam Pasitéia, Caris e Aglaé. As Cárites
se entrelaçam para indicar os serviços mútuos e o auxílio fraternal que os
homens devem uns aos outros. São jovens porque a lembrança de um benefício não
pode envelhecer. O símbolo dessas três irmãs inseparáveis exprimia a idéia de
serviço prestado, e o papel delas era presidir ao reconhecimento.
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